Traição
Muito se tem falado sobre traição
e poucas conclusões se tiram das discussões.
Há poucos dias, me vi atraído por
uma matéria de revista na banca, que continha a seguinte chamada: o que motiva
o comportamento infiel? Ao lado do titulo, um apêndice que falava de um estudo
que revelava um aumento no número de mulheres que traía por desejo e não mais
por vingança - o que me chamou mais atenção ainda.
Para mim mais uma discussão sem
conclusão.
Todas às vezes, que tentamos lidar
com esse fato, que a muito se tem notícias, nos deparamos com inumeras
tentativas de explicações psicológicas e muito moralismo. Quem nunca pecou que
atire a primeira pedra.
Agora, pesquisadores estão
tentando explicar a traição feminina a partir do gene, que acredito que vá ser
mais uma voz nessa tumultuada discussão. O fato é: quem trai mais?
Convido você a entrar comigo no
mundo das ideias e pensarmos em um tempo muito antes de nós.
Durante muito tempo da nossa
historia, um modo de pensar e agir conhecido por machismo organizou nossa
sociedade e subjugou as mulheres por muitos séculos. Em algumas culturas, ainda
pode se ver vestígios desse período sombrio. Todas às vezes, que se fala em
traição, nos remetemos sempre para um homem, porém um homem não tem um romance
sozinho. Muitas vezes, nos esquecemos de que tem uma mulher no contexto, o
machismo, talvez tenha sido uma forma de defesa do grupo masculino em relação
ao poder que as mulheres tiveram em algum momento da historia e que estão
retomando de um tempo pra cá, com todas as revoluções que vem ganhando força. Porém
tem sido uma guerra dos sexos, uma tentativa de provar quem trai mais, quem é
mais forte, etc.. Homem ou mulher?
Acredito que muito mais do que
uma explicação psicológica ou genética, a explicação disso tudo esta no sentimento
de posse e em um consciente coletivo cultural. Registros históricos, feitos há
cerca de 3000 a.C, mostram que as mulheres eram consideradas propriedades e
valorizadas para reprodução, e o adultério não era uma violação da moral e sim
um crime, uma espécie de violação de propriedade. Não havia respeito pelo
sentimento feminino. Na Grécia antiga, as mulheres muitas vezes valiam menos
que um escravo, elas eram chamadas de “gyne” - portadora de crianças, ou seja,
elas eram definidas por seus úteros.
Ainda na Grécia, Platão foi um
dos primeiros a falar sobre a histeria, doença tipicamente feminina, cuja causa
era um útero inativo. Ele descreve em uma de suas obras, que o útero era uma
criatura que vivia desejosa para parir e que se fosse deixado vazio por muito
tempo depois da puberdade, começaria a passear pelo corpo, cortar a respiração
e provocar no sofredor uma angustia extrema, uma referência aparente a menstruação
e as dores menstruais.
No século II d.C, o médico e
escritor Galeno, descreve a histeria como uma doença uterina, causada pela
privação de sexo. Ele recomendava o ato sexual ou a masturbação como cura.
Não estou falando de histeria,
mas sim da subjugação da mulher. Pense comigo: quem eram os responsáveis pelos
tratamentos nas mulheres? Sem contar os cintos de castidade da idade média.
Uma espécie de revolução sexual
veio junto com a reforma protestante do século XVI, liderado por Martinho
Lutero e Calvino. Os puritanos quando chegaram à América, trouxeram conceitos
da reforma protestante, com tudo, os puritanos eram extremistas, os que se
entregavam ao adultério, se descobertos eram chicoteados, colocados em troncos
ou forçados a confessar em praça pública. Homens, por sua vez, eram
considerados mais racionais que as mulheres. Estas eram castigadas até por suas
vestes, que segundo os ministros, atraiam a atenção dos homens, e assim condenações
contra as mulheres eram mais frequentes.
Mas já foi dito, não há relação
sexual sem que esteja o par.
Meu conceito sobre tudo isto, é
que cada um que tenta explicar a traição puxa sardinha pro seu próprio prato! Isso
mesmo, tentamos nos eximir de culpa ou culpar alguém.
Por exemplo, se um homem trai uma
mulher, ele diz que ala não dava mais carinho e atenção, que o vivia atormentando
e que não aguentava mais tanta briga. Se ela o trai, o relato dele é de que ela
é uma puta, ingrata e de que ele não deixava faltar nada em casa e coisas desse
tipo.
Mas quando a mulher explica este
mesmo cenário, se ela o trai é porque o marido já não dá atenção necessária,
que só pensa em trabalho e etc., se ele a trai, nossa! Ele é um tremendo de um
safado, sem vergonha que nunca fez nada pela família e assim por diante.
Mas ninguém para pra pensar e
refletir que tudo isso só aconteceu por falta de amor, o mesmo amor que une as
pessoas. É muito raro uma mulher trair sem ter a intenção do amor do outro
homem, e por mais que tentemos explicar a traição não conseguiremos, pois não é
a traição que é o problema e sim a falta de amor, muitas vezes falta de amor
próprio.
Então por que traímos? Por não
sermos sinceros o suficiente para reconhecer que poderíamos ser melhores, sair
da relação atual e ingressarmos em uma nova viagem desconhecida. Sem contar que,
saímos de um relacionamento doente e logo entramos em outro, e nos perguntamos:
porque esta acontecendo tudo de novo?
Pois é, esquecemos que a
humanidade tem uma historia que devemos respeitar e levar em conta a evolução
humana. Sobre isso falaremos em outro momento.
E pra você, quem trai mais? O Homem
ou a mulher?
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